Quando eu estava planejando meu mochilão pela América do Sul, uma das poucas certezas que tinha eram que o Deserto do Atacama e o Deserto de Sal estariam nesse roteiro. Porém, eu não fazia a menor ideia de como ir de San Pedro de Atacama até Uyuni, visto que ambas ficam no meio do deserto.
Para minha felicidade, descobri que a maneira mais comum de ir de uma cidade para a outra, era fazendo a travessia de 4×4 pelo deserto, numa aventura de 3 dias, muito mais legal que de ônibus ou avião, não é mesmo?
Como é a travessia até o deserto de sal
Então vamos lá, a travessia é feita normalmente através de alguma agência de turismo. Os veículos utilizados são sempre 4×4 e em cada um vai até 7 pessoas. Sendo 1 motorista e 6 turistas.
Como somente o motorista acompanha o grupo, ele é peça fundamental em toda a travessia. Além de conhecer o deserto como a palma da mão, também será nosso guia, cozinheiro e mecânico, caso o carro estrague. Afinal não tem como pedir socorro estando no meio do deserto.
A travessia pode ser feita em ambos os sentidos, partindo de San Pedro de Atacama ou de Uyuni. Aqui eu mostrarei partindo de San Pedro que foi a que eu fiz, mas a única coisa que muda basicamente é a ordem das paradas.
No mapa abaixo, eu marquei todas as paradas que fizemos, para terem uma ideia da distância que percorremos.
Travessia dia 1
Por volta das 6h da manhã, um micro ônibus me buscou em meu hostel e antes de seguirmos para a fronteira, ainda fizemos mais algumas paradas pegar outros turistas.
Com todo mundo a bordo, partimos direto para a fronteira com a Bolívia. O prédio da imigração era um casebre bem simples no meio do deserto, a imigração mais raiz que vi até hoje.
Lá fizemos todos os tramites para entrar no país e trocamos o ônibus pelo 4×4 que nos conduzirá até o fim da travessia.
Laguna Verde e Laguna Blanca
Já a bordo do 4×4, seguimos por apenas alguns minutos até a nossa primeira parada, A Laguna Verde e Blanca ficam praticamente uma do lado da outra.
Localizadas ao pé do vulcão Licancabur. Ambas se destoam pelo contraste de suas cores em meio ao deserto. A coloração da água é formada por causa dos minerais que vem do vulcão.
Infelizmente a Laguna Verde estava com o nível bem baixo de água e o tempo estava meio fechado, então o verde dela não estava realçando muito.
Polques Hot Springs
Seguimos para o Polques Hot Springs, curtir as águas termais. O lugar é bem simples, conta com banheiros, um pequeno restaurante e uma única piscina aquecida naturalmente a beira do lago com uma bela vista.
A parada dura um pouco menos de 1h, quem quiser entrar na piscina, custa apenas 6 bolivianos (R$4,90).
Gêiser Sol de Mañana
O Sol de Mañana junto com o Gêiser de El Tadio no Atacama, são os únicos parques geotérmicos da América do Sul.
Aqui começamos a sentir os verdadeiros efeitos da altitude boliviana, pois o gêiser está situado a uma altitude próxima dos 5mil metros acima do nível do mar. A falta de ar e o cansaço começam a pegar!!
Não espere ver aqui a água ser jorrada a diversos metros de alturas como nos gêiseres de Yellowstone. O máximo que ocorre aqui é uns borbulhos na água e muita fumaça.
Laguna Colorada
Quem nunca viu um flamingo pessoalmente, com certeza nessa viagem verá muitos deles. A Laguna Colorada por exemplo, é repleta deles.
Olhando no horizonte a cor da água e dos flamingos se misturam e você não sabe mais o que é flamingo e o que é agua, simplesmente incrível.
Depois desse passeio, seguimos para o lugar onde passamos a noite. E claro que seria mais um lugar raiz, nem chuveiro para tomar banho havia no local, quem dirá internet.
Apesar de fazer bastante frio a noite, as cobertas eram bem grossas e foram suficientes para mim. Mas para quem quiser, é possível também alugar um saco de dormir.
Apesar de durante o dia não ter sofrido muito com a altitude, a partir do momento que eu deitei para dormir, minha cabeça explodiu de dor. Quase não consegui dormir, fiquei um tempão só mascando folha de coca para ver se ajudava, mas no fim não adiantou muito. Só consegui dormir mesmo por estar muito cansado.
Travessia dia 2
Acordamos bem cedo para tomar o café da manhã — somente depois de comer minha dor de cabeça passou — e em seguida continuamos a travessia, nossa primeira parada foi no Deserto de Siloli
Deserto Siloli
Considerado um dos desertos mais áridos do mundo, o Deserto de Siloli é famoso por suas formações rochosas, resultantes dos fortes ventos que a região tem.
Estava muito fria essa manhã, tanto que era possível observar neve por cima da areia do deserto que só foi desaparecer por volta das 10h da manhã.
Laguna Honda
Uma rápida parada antes do almoço na Laguna Honda, mais uma bela lagoa cercada por montanhas.
Laguna Charcota
Bem próxima a Laguna Honda, a Laguna Charcota é outro ponto para observação de diversos flamingos
Laguna Cañapa
Última parada antes do almoço, mais uma bela lagoa para observação. A Laguna Cañapa.
Depois de visitarmos a Laguna Cañapa, seguimos para o Los Flamencos Eco Hotel.
Esse hotel, localizado no meio do deserto leva esse nome pois fica a beira de um lago cheio de flamingos.
Aqui fizemos nossa parada para o almoço, apesar de ser um hotel, não vimos nenhum outro hospede. Mesmo estando em um hotel, quem preparou a comida foi o nosso motorista.
Salar de Chiguana
O Salar de Chinguana tem uma área de aproximadamente 15km², sendo relativamente pequeno perto do Salar de Uyuni.
Ele está localizado a uma altitude próxima aos 3700 metros acima do nível do mar. A famosa linha de trem onde os turistas tiram bastante fotos é uma importante rota para escoamento da produção de minério até o porto de Antofagasta no Chile.
Ciudad de San Juan
Ultima parada do dia, a pequeníssima cidade de San Juan. Localizada no meio do absoluto nada, é aonde passamos nossa última noite.
Como chegamos na cidade no fim da tarde, deu tempo de dar uma caminhada, mas o único lugar aberto era um pequeno armazém aonde pudemos comprar algumas bebidas para passar o tempo.
No hotel que ficamos, dessa vez tinha chuveiro para tomar banho, mas tinha que pagar separado. O valor para tomar banho era 10 bolivianos (R$8,00).
Travessia dia 3: Finalmente o Deserto de Sal
Ultimo dia e o mais esperado deles, pois visitamos o famoso Salar de Uyuni.
Salar de Uyuni
Como gostaríamos de ver o nascer do sol lá do deserto de sal, iriamos sair por volta das 5h da manhã. Entretanto, como a entrada mais próxima do salar estava alagada e o 4×4 não passava, tivemos que sair ainda mais cedo, por volta das 4h da manhã para contornar a área alagada.
Uyuni na Bólivia: Como chegar até lá
Salar de Uyuni: Tudo sobre o que você precisa saber
No salar havia um área com uma fina camada de água, que o céu fica completamente espelhado e outra parte completamente seca.
Quando chegamos na parte espelhada, ainda estava escuro. Ficamos por lá observando o nascer do sol. Em seguida sendo servido o café da manhã por ali mesmo.
Depois do café da manhã, com direito a chá de coca para aguentar a altitute, seguimos por alguns km até a parte seca do deserto de sal.
Na parte seca é onde é feita as famosas fotos com ilusão de perspectiva — quando parecemos grandes ou pequenos em relação a um objeto.
Em nossa última parada no deserto de sal, fomos até o Hotel de Sal Playa Blanca, que hoje está desativado e serve mais como um museu para turistas.
Aos arredores do Hotel, encontramos a Praça das Bandeiras e o Monumento Dakar, em homenagem ao Rally Dakar que passou pelo salar.
Nos despedimos do deserto de sal e seguimos em direção a última parada da travessia. O cemitério de trens.
O local é chamado de Cemitério de Trens por haver diversos trens que foram abandonados há vários anos. Dessa forma, acabaram ficando todos enferrujados e corroídos devido a exposição ao tempo.
No fim, toda essa decomposição dos trens, transformou o local muito propício para fazer diversas fotos bacanas.
Para terminar o passeio, fizemos uma parada em um restaurante local para almoçarmos e em seguida o motorista nos deixou em frente a agência da empresa no centro da cidade.
Para quem iria retornar para o Atacama, continuaria ainda por mais um dia até retornar a San Pedro.
Quanto custa a travessia
A travessia pode ser iniciada tanto pelo lado chileno como o boliviano. Mudando claro, a ordem dos passeios.
Iniciar pelo lado chileno será sempre mais caro. e abaixo listarei o preço médio cobrado pelas agências.
- Atacama Uyuni 3 dias e 2 noites: 190 dólares.
- Atacama Uyuni 4 dias e 3 noites: 235 dólares.
- Uyuni Atacama 3 dias e 2 noites: 130 dólares.
Partindo do Atacama, a única diferença da travessia de 3 para 4 dias, é que na ultima, está inclusa a volta para o Atacama, esse dia a mais é apenas para voltar. Não há diferença nos passeios.
Já partindo de Uyuni, pelo que vi no site das agências não havia diferença de preço se fosse incluir a volta.
Como escolher uma agência
Aqui eu recomendo que busque por uma agência que tenha escritório tanto em San Pedro como em Uyuni. Assim ela será responsável pela sua travessia do inicio ao fim e não te largara com uma outra empresa que fará a travessia.
Eu realizei a travessia pela Cordillera Traveler e gostei bastante da experiência com eles. Outra agência que atende a esses requisitos e é muito bem recomendada é a World White Travel.
Catarinense morando em Curitiba, formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pela UTFPR e pós graduado em Gestão de Banco de Dados pela PUC-PR, que fez seu primeiro mochilão aos 24 anos, se apaixonou e nunca mais conseguiu parar.