Subir até o cume de um vulcão ativo era um dos meus sonhos desde criança. Eu finalmente consegui realizar esse sonho em minha viagem ao Deserto do Atacama, subindo o Vulcão Lascar. Nesse post eu conto como é a subida e como foi a minha experiência.
Com 5.592 metros de altitude, o vulcão Lascar encontra-se no Deserto do Atacama, conforme já havia comentado, na região norte do Chile.
O Lascar é considerado o sexto vulcão mais ativo do país e o mais ativo do norte do Chile. Sua última erupção ocorreu em 2006, mesmo assim, a saída de fumaça da cratera é constante.
Por falar em cratera, a cratera do vulcão Lascar tem aproximadamente 750m de diâmetro e 300m de profundidade.
Apesar de ser ativo, não há perigo para quem deseja escalar o vulcão, pois ele é constantemente monitorado pelas autoridades chilenas. Caso seja detectado qualquer anormalidade, as subidas ficam proibidas até segunda ordem.
Portando caso você deseje subir, saiba que estará sujeito a possíveis cancelamentos de seu passeio pelo vulcão.
Devido a altitude e por não ser uma subida nada fácil, não é recomendado que se faça a subida desacompanhado de um guia profissional. Há diversas agências de turismo em San Pedro que oferecem passeios em vulcões, não somente ao Lascar. Eu utilizei a Vulcano Expediciones.
Pré subida
Como eu estava hospedado em San Pedro de Atacama, o guia foi me buscar as 5h da manhã em meu hostel. Além de mim, ainda passamos buscar mais dois turistas americanos. Ao todo, fomos em 3 turistas, o guia e mais um guia auxiliar.
Nossa primeira parada foi para buscar os equipamentos para a subida, mais o nosso café da manhã — que seria preparado no pé do vulcão. Depois seguimos por quase 2h de estrada até o pé do vulcão.
A altitude já passava dos 4mil metros acima do nível do mar e o frio era intenso. Enquando nosso café da manhã era preparado, pudemos explorar um pouco o local que era cercado por montanhas e um belo lago.
O café da manhã era bem simples, mas bem gostoso, e claro que não poderia faltar um chá de coca para aguentar a altitude. Durante o café, mais 2 pequenos grupos também chegaram ao local para a subida.
Antes de prosseguirmos, o guia nos passou algumas instruções de como seria a subida e tudo o que deveríamos fazer. Em resumo, o que nos foi passado era para manter a respiração normal, e manter o mesmo ritmo da passada. Ficar andando e parando naquela altitude é realmente muito pior e a fadiga chega muito mais rápido.
Início da subida
Voltamos para o carro e seguimos em comboio subindo o vulcão. Grande parte da subida foi feita com os 4×4 até uma altitude de aproximadamente 4.900m, aonde as caminhonetes não aguentavam mais e atolavam na neve.
Da onde paramos até a cratera do vulcão, era apenas pouco mais de 500m de subida. Por um momento fiquei um pouco decepcionado, pois a grande aventura de escalar um vulcão seria uma mera subidinha de 500m. O que eu não imaginava é que esses 500m se tornariam os mais sofridos de toda a minha vida.
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Vulcão Lascar: A subida
Estava muito frio no momento, mesmo sendo nos informados pela agência que deveríamos levar nossas próprias roupas de inverno — o que eu já sabia que era assim antes da viagem, então já fui preparado —. No momento estava ventando muito e as minhas roupas definitivamente não seriam suficientes.
Por sorte o guia tinha levado jaquetas e luvas bem grossas para nós. Eu não tenho ideia da temperatura que estava no momento, mas nem quando eu peguei -20º C no Canadá eu senti tanto frio como esse dia durante o início da subida.
Formamos uma fila indiana, com o guia na frente e o guia auxiliar atrás. Iniciamos a subida um pouco antes dos outros 2 grupos. Havia também um radio comunicador entre os guias dos diferentes grupos para entrar em contato em caso de alguma emergência.
Lembro muito bem que não demos 15 passos e eu já estava morrendo de cansaço, parecia que tinha corrido uma maratona. Eu fiquei com muita vontade de pedir para descansar hahaha mas não tive coragem de falar nada, simplesmente fechei os olhos, respirei fundo e continuei.
O frio, vento gelado, subida íngreme e altitude, tudo isso combinado tornavam aquela mera subida de pouco mais de 500m bem complicada. Mesmo a gente pedindo algumas vezes para parar, o guia sempre dizia para mantermos o ritmo.
Pouco mais de meia hora de subida, sem pausas ainda, um dos americanos desistiu da subida. Nesse momento, o guia que estava como auxiliar, o acompanhou novamente até caminhonete.
Eu mesmo pensei em desistir diversas vezes, por alguns momentos, eu caminhava quase que no automático, com os olhos fechados, nem conseguia pensar direito, foi realmente o maior esforço mental e físico que fiz na vida.
Mas como eu queria muito chegar lá no topo, eu concentrava todas minhas forças nisso. Sem contar que o somente esse tour custou na faixa dos 500 reais — sim, os passeios no Atacama são bem caros — o que também me motivava ainda mais a não desistir e ter gasto essa grana a toa.
Quando chegamos na metade, finalmente fizemos a nossa primeira e única parada. Eu quase nem acreditei, queria deitar e nunca mais levantar hahaha.
Dos outros 2 grupos que tinha aproximadamente 8 pessoas, só 1 chegou até ali onde estávamos também. Em pouco menos de 15 minutos de descanso, continuamos a subida.
Logo mais a frente essa única pessoa do outro grupo que ainda estava subindo, desistiu também. Eu fiquei morrendo de vontade de desistir com ele, me dava arrepios só de pensar que depois de chegar lá no alto, teria que descer tudo isso novamente.
Agora só restou eu, o guia e um dos americanos. Seguimos lentamente, mantendo o ritmo, e eu lá caminhando basicamente de olhos fechados, juntando forças.
Vulcão Lascar: Chegada ao topo
Depois de pouco mais de 2h30m de subida — mais difíceis da minha vida —, finalmente chegamos ao topo do vulcão. A sensação de felicidade e dever cumprido era enorme. Eu estava realizando um dos meus maiores sonhos e metas de vida que eu tinha.
Havia uma grande quantidade de fumaça saindo do vulcão, o que impossibilitava de ver com clareza o fundo da cratera. O cheio de enxofre era realmente forte, e para ajudar, ventava tanto, que nosso corpo chegava a balançar.
Não só a vista de dentro da cratera, mas toda a paisagem vista lá do alto, típica de deserto, com muitas montanhas e neve aos arredores era simplesmente incrível.
Vulcão Lascar: A descida
Passamos pouco menos de 30 minutos lá em cima e iniciamos a decida. Para minha alegria, descer foi super tranquilo, nem dava para perceber que estavamos a 5mil metros de altitude. O trajeto que levamos 2h30m para subir, não levamos 40 minutos para descer.
Por volta das 13h30m já estamos de volta na caminhonete. Tomamos um chocolate quente, chá de coca e seguimos de volta para San Pedro de Atacama, com apenas uma parada para ver o vulcão de um outro ângulo.
Pós descida
Pelas 15h chegamos em San Pedro, porém, como descemos muito rápido dos 5mil metros para os 2400m de altitude de San Pedro. Ainda antes de chegar no hostel, minha cabeça explodiu de dor.
Fiquei o resto da tarde deitado, só mascando folha de coca, comendo fruta e tomando água. Mas nada parecia ajudar, tanto que tive que ir mais tarde na farmácia para me medicarem, pois eu não estava aguentando de dor.
Então galera, essa foi minha experiência ao subir um vulcão. Apesar dos relatos de sofrimento, eu não me arrependi nem um pouco de ter feito. Faria de novo? Talvez não o mesmo, mas faria outro tranquilamente.
Mesmo seguindo a recomendação de deixar esse passeio para o último dia da minha estadia no Atacama, e assim, estar um pouco mais ambientado com a altitude. Nesse passeio eu senti tudo que não senti em outros passeios, mesmo atingido também altitudes acima dos 4.000 metros acima do nível do mar.
Cada corpo reage de uma forma diferente, assim como muitos desistiram, outros podem subir sem tanta dificuldade. Se em seu mochilão você estiver vindo da Bolívia para o Atacama, talvez sinta menos os efeitos da altitude.
E ai, ficaram com vontade de subir, ou desistiram da ideia depois do meu relato? haha me contém nos comentários. Até o próximo post.
Catarinense morando em Curitiba, formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pela UTFPR e pós graduado em Gestão de Banco de Dados pela PUC-PR, que fez seu primeiro mochilão aos 24 anos, se apaixonou e nunca mais conseguiu parar.