Quem aqui se lembra da novela O Clone, onde parte da trama se passava na cidade de Fez no Marrocos. Desde aquela época eu me impressionei com o lugar e fiquei com muita vontade de conhecer, especialmente pelos curtumes que sempre apareciam. Finalmente, depois de quase 20 anos, pude conhecer essa cidade e nesse post eu mostro como é passar 2 dias na maior Medina do mundo.
O nome oficial da Medina é Fez El Bali, é o distrito mais antigo da cidade de Fez, fundado entre 789 e 808d.c. Sendo a primeira capital do Marrocos e a mais antiga das cidades imperiais do Reino do Marrocos.
Medinas são antigas cidades árabes cercadas por muralhas. O emaranhado de becos e ruas estreitas as tornam um verdadeiro labirinto.
Fez foi minha porta de entrada no Marrocos. Conheci o país junto com a minha viagem a Portugal e de Lisboa consegui um voo de 5€ (isso mesmo que você leu) em um voo de pouco mais de 1h até Fez, voando pela lowcost Ryanair, uma das mais famosas da Europa.
Chegada na cidade de Fez no Marrocos
O aeroporto da cidade é pequeno, e praticamente só havia aviões da Ryanair no momento que pousei. Meu voo veio bem vazio, mas pelo visto o outro que tinha acabado de chegar estava bem cheio, pois a fila da imigração estava grande e não tinha muitos agentes de imigração trabalhando no momento.
A imigração de entrada foi bem tranquila, só perguntaram o objetivo da viagem e o que eu iria fazer. Após a imigração, passei no caixa eletrônico e utilizei meu cartão da Wise para sacar alguns Dirhans Marroquinos (moeda local) para poder pegar um taxi até a Medina, onde eu estaria hospedado.
Deslocamento do aeroporto até a Medina
A saída do aeroporto foi um pouco confusa, não havia taxis no momento que saí, somente um monte de turistas meio perdidos sem saber o que fazer e sem ninguém para nos dar maiores informações. O preço do taxi era tabelado em 120 Dirhans (aproximadamente 12€), estando este informado na placa no ponto de taxi. Ponto positivo, pois assim você evita surpresas e golpes em cima dos turistas.
Enquanto não havia nenhum taxi, conversei com outros turistas para dividirmos um taxi. A chance de você conseguir é grande, já que a maioria vai para a Medina.
O aeroporto fica bem distante da cidade e o trajeto até a Medina dura cerca de 40 minutos. Como não é permitida a entrada de carros lá, o taxista te deixará na entrada mais próxima de sua hospedagem.
Um verdadeiro labirinto
Não subestime as ruas da Medina, é muito fácil de se perder por lá, como as ruas são muito estreitas e próximas, a chance de o GPS apontar que seu hotel é numa rua e na verdade ser na outra é bem grande.
Eu estava indo na raça e coragem, mas como o outro turista que tinha dividido taxi tinha solicitado para o dono do hostel ir encontrar ele na entrada da Medina, eu acabei indo junto e o dono desse hostel já me levou até o que eu estava hospedado também, pois eram próximos.
Confesso que dei sorte, pois acho que eu teria me perdido e teria que pedir informações ou pagar alguém para me guiar. Para piorar já estava anoitecendo.
Eu sabia que havia a opção de pagar alguém na entrada para te ajudar com as malas e te levar até a sua hospedagem, mas confesso que não pesquisei muito afundo. Além de que chegar num país diferente, num lugar que na primeira impressão era meio assustador eu não confiaria minhas coisas e ficar seguindo um desconhecido por aquelas vielas.
Leia também: Dicas para sua primeira viagem ao Marrocos
Primeiras impressões
Como eu acabei de citar, ao chegar na Medina, o choque cultural para mim foi muito grande. Ver aquelas pessoas com roupas mulçumanas te encarando e umas vielas estreitas e as vezes até meio escuras. Deu um certo medo no início, tanto que para sair jantar no primeiro dia fiquei com um pouco de receio.
Porém no outro dia, à medida que fui caminhando e conhecendo as pessoas, meu medo foi passando. O povo marroquino é bem tranquilo e receptivo. Dificilmente você será assaltado ou algo do tipo por lá. Só tome cuidado com os guias não oficiais que ficam te abordando, mesmo que você não feche passeio com eles, mas se eles ficarem te acompanhando e dando explicações, em algum momento vão querer cobrar algo de você, portanto já os dispense desde o início.
Cidade de Fez no Marrocos: O que fazer?
Minha chegada em Fez foi numa quinta-feira, final de tarde e fui embora no domingo bem cedo, então eu tive apenas 2 dias cheios na cidade. Por isso, acabei ficando basicamente na Medina, até porque era meu principal interesse na cidade, saindo apenas por algumas horas aos arredores da Medina, mas não cheguei a conhecer a parte mais moderna da cidade.
Principais ruas da Medina
As duas principais ruas da Medina são Talaa Kebira e Talaa Sghira. É nelas onde estão concentradas grande parte do comercio e restaurantes. Elas são paralelas e cortam grande parte da Medina, inicie seu passeio por elas.
Caminhando por elas você encontrará os mais diversos produtos à venda. O que mais se destaca é sempre roupas de tecido e couro, peças de cerâmica, panelas e utensílios de metal e cobre e claro, muitas especiarias e perfumes.
A maior parte dos restaurantes você encontrará próximo a junção dessas ruas, chegando no principal portal de entrada da Medina, o Bab Bou Jeloud.
Portais de entrada da Medina
Como estamos falando de uma cidade murada, todos os acessos a cidade se dão por portais. Você identificará facilmente os portais de entrada no mapa, pelo nome “Bab”. O principal deles é o Bab Bou Jeloud que acabei de citar, pois ele separa a cidade antiga da nova Fez.
Outro portal interessante é o Bab Rcif, que fica próximo da Mesquita e praça que leva o mesmo nome. Essa praça é um dos principais pontos de troca e abastecimento de toda a Medina. Sendo também um local de intensa atividade artesanal. Ao final da praça, temos também outro portal de acesso a Medina, o Bab Sid L’Aouad.
Al Quaraouiyine e Madrisse Attarine
Numa das regiões mais centrais da Medina, tempos a Universidade e Mesquita Al Quaraouiyine. A universidade em funcionamento mais antiga do mundo.
Pelas fotos ela parece ser um lugar muito lindo, mas infelizmente, a entrada e visitação é permitida apenas para pessoas mulçumanas. Então a gente não consegue ver mais que a porte de entrada do local.
Ao lado da universidade, temos a Madrisse Attarine, uma escola mulçumana onde podemos visitar pagando 20dir (2€).
Finalizada no ano de 1325, essa escola é caracterizada pelo seu layout, o pátio com a fonte fica no centro e o prédio quadricular o cerca. No pátio também encontramos a parte mais bonita do local com seus detalhes em mármore, azulejos de cerâmica e gesso. Já nos andares superiores, temos os quartos de reza com alguns deles dando vista para o pátio principal.
Marinid Tombs
Ao norte da Medina de Fez, no alto da colina, encontram-se as ruínas das Tumbas Marinid. Local que serviu de cemitério durante a Dinastia Marinid, entre os séculos 13 e 14.
Lá no alto encontramos basicamente as ruínas de dois mausoléus. Mas o que eu realmente mais gostei do lugar é a vista que temos da Medina, onde temos uma real dimensão do seu tamanho.
Apesar de ficar fora da Medina, as ruínas encontram-se a 20 minutos de caminhada da Universidade al Quaraouiyine, um dos pontos mais centrais da Medina.
Chouara Tanneries
Um dos locais que mais me chamou atenção na novela O Clone e que eu mais gostaria de conhecer em Fez, eram os Curtumes, ou como são chamados em francês por eles, Tanneries.
Curtume: Local onde é possível tratar o couro cru afim de deixá-lo utilizável pela indústria. É a primeira etapa do processamento do couro e os curtimentos mais utilizados para essa finalidade são de origem vegetal e mineral.
Apesar de haver várias, a mais famosa de Fez é a Chouara, sendo também a mais antiga do mundo. Sua data é meia inserta, mas estimasse que ela tenha quase 1000 anos.
Chegando próximo ao local, você encontrará diversas lojas e casas onde oferecem um terraço para ter uma vista panorâmica do curtume. O valor geralmente cobrado é de 20dir (2€). Eu acabei subindo em 2 locais para ter uma visão de ângulos diferentes.
Fez é o principal produtor de couro do país. Dentre as lojas que oferecem terraços, a maioria delas são lojas de roupas e artigos de couro. Principalmente as jaquetas de couro são muito famosas e de boa qualidade, feitas basicamente de modo manual.
Apesar de ser um dos locais mais baratos, pois você estará praticamente comprando direto de fábrica, os preços estavam iniciando na faixa de 200 dólares. Entretanto eu não cheguei a negociar valores em nenhum momento, provável que esse preço baixe por pelo menos a metade.
Se prepare para o fedor, pois o local cheira muito mal. Chouara ainda utiliza as mesmas técnicas milenares para tratamento de couro. Entre elas, a utilização de fezes de pombo. O motivo para isso é que as fezes de pombos são bem ácidas e abrasivas, o que ajuda a amaciar o couro. Geralmente o couro cru fica nessa mistura por uma semana.
Place Seffarine
Nessa praça encontramos diversas lojas que vendem artigos de bronze e prata. Principalmente panelas, bules de chá, travessas, entre outros artigos para cozinha.
Além de vender os itens, aqui você pode conferir esses itens sendo produzidos de forma artesanal. Na base da marretada mesmo. É incrível ver como no fim as panelas ficam lisinhas, sem nenhum amassado ou detalhe.
Praça Bou Jeloud e Parque Jnan sbil
Localizada um pouco à frente do Portal Bou Jeloud, principal portal da Medina, tempos a praça que leva o mesmo nome. Além de ser um estacionamento para quem visita a Medina de carro, tempos nela também o Bab Chorfa, um dos portais mais bonitos da Medina.
Do outro lado da praça, temos o Bab Chems, portal de saída da praça. Após o portal, chegamos também no Parque Jnan Sbil, uma área verde que se destoa da cor marrom da cidade. Além do lago artificial, a praça conta com mais de 3mil espécies de plantam.
Passeios no deserto
Um dos melhores passeios do Marrocos é o acampamento no deserto. Apesar de não estar tão perto assim da cidade de Merzouga que é a principal porta de entrada para o Deserto do Saara. Utilizar esse passeio como meio de ligação terrestre entre Fez e Marrakesh (ou vice-versa) é uma ótima forma de otimizar seu tempo, pois você iniciará o passeio em uma cidade e terminará em outra.
Também e possível ir e voltar para Fez, mas você acabará perdendo um dia apenas no deslocamento, sem conhecer novos lugares.
Para saber mais detalhes, confira o meu post onde eu falo como foi minha experiência acampando no Deserto do Saara.
Negocie preços sempre!
No Marrocos não tem essa de produtos com preços etiquetados, quer comprar algo? negocie o preço sempre. Geralmente eles começam com os preços lá nas alturas, portanto, para saber se realmente fez um bom negócio, tente fechar por um valor próximo a 30% do inicial.
Caso o vendedor não esteja disposto, vá para outra loja, pois a maioria das lojas sempre vendem as mesmas coisas. Pelo menos uns 50% de desconto dá para conseguir facilmente. Mesmo que você não vá comprar nada, eles gostam de negociar o preço e saber o quanto você pagaria em seus produtos, é algo bem cultural e eles gostam de fazer.
Compras em Fez
A cidade de Fez é muito boa para que deseja comprar roupas de couro, pois os principais curtumes do país estão lá. Também há uma enorme variedade de panelas e louças, especiarias e muitos outros tipos de bugigangas.
Eu particularmente achei os preços em Fez melhor que Marrakesh, pois é uma cidade menor e muito menos turística. A própria variedade, principalmente de louças achei bem maior aqui também.
Iniciar por Marrakesh
Como eu citei anteriormente, iniciar a viagem por Fez foi um choque cultural bem grande, mas que fui me acostumando rápido. Se você for uma pessoa que tem um pouco de receio de visitar países com costumes muito diferentes ou tem medo maior de ir para países como Marrocos por exemplo. Aconselho iniciar sua viagem por Marrakesh.
Marrakesh é a cidade mais turística do país, onde você encontrará um povo mais acostumado com estrangeiros, além da própria cidade oferecer atrações mais semelhantes à nossa também. Com certeza você terá mais facilidade em se habituar ao país.
Mas não deixe de visitar Fez, foi uma experiência incrível conhecer a cidade e ver uma realidade mais natural de grande parte da população marroquina.
Preços em Fez
Um resumão dos valores de coisas básicas na Medina de Fez. Lembrando que não é tudo que você tem que ficar negociando preço. Comida por exemplo, felizmente tem sim preço e você não precisará ficar negociando.
- Preço médio de uma refeição sem bebida: 40dir (4€)
- Lanches: 10 a 20dir (1 a 2€)
- 1,5L de água: 5dir (0,50€)
- Chip celular (somente o chip): 20dir (2€)
- Recarga 5gb, valido por 1 mês: 50dir (5€)
Catarinense morando em Curitiba, formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pela UTFPR e pós graduado em Gestão de Banco de Dados pela PUC-PR, que fez seu primeiro mochilão aos 24 anos, se apaixonou e nunca mais conseguiu parar.